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sábado, 22 de janeiro de 2011

Açúcar, vamos reduzir?!


Por que o açúcar é um vilão?

O problema do açúcar, em especial o refinado, é que ele é 100% caloria, sem valor nutricional. Quando consumido regularmente em grande quantidade ou puro, ele deflagra uma série de reações bioquímicas que podem levar à obesidade, e esta, à hipertensão, ao diabetes e até a alguns tipos de câncer. Isso é sabido pela medicina há muitas décadas. O que existe de novo no estudo do metabolismo do açúcar no corpo vem da medição exata de como outros alimentos podem produzir os mesmos efeitos adversos do doce pó branco.

O consumo de açúcar causa automaticamente aumento de glicose no sangue?

Alimentos com alto teor de açúcar, além de ser calóricos, promovem, sim, um aumento rápido dos níveis de glicose no sangue. A glicose é a principal fonte de energia para o corpo humano. Ela é obtida a partir principalmente dos carboidratos – grupo do qual o açúcar faz parte. A glicose só pode ser utilizada pelas células, onde se transforma em energia, na presença do hormônio insulina. Pessoas com sobrepeso, obesidade ou predisposição genética estão mais propensas a desenvolver resistência à insulina. Uma descoberta recente explica as razões: a gordura em excesso funciona como uma glândula produtora de hormônios que desregulam o apetite, como a leptina, a resistina e a adiponectina. A resistência à insulina caracteriza-se pela dificuldade das células do organismo em reconhecer o hormônio, o que pode levar ao acúmulo de glicose no sangue e, conseqüentemente, a uma produção exagerada de insulina. O açúcar de açucareiro não é o único alimento responsável por elevar as taxas de glicose no sangue. Na década de 80, a ciência da nutrição desenvolveu um instrumento, batizado de índice glicêmico, ou IG, capaz de medir a velocidade com que cada alimento aumenta os níveis da glicemia. Depois surgiu outra ferramenta ainda mais prática, a carga glicêmica, ou CG, que avalia as alterações na glicemia causadas por uma determinada porção do alimento.

Todos os alimentos que contêm açúcar elevam os níveis de glicose na mesma proporção?

Os alimentos que contêm carboidratos aumentam a glicemia, sem exceção. Entre eles, estão até mesmo os insuspeitos hortaliças e grãos. O impacto dos diversos alimentos sobre as taxas de glicose sanguínea, no entanto, é variável. Depende da velocidade com que essas comidas são digeridas. Quanto mais rápido, maior é o pico glicêmico. Dentre os fatores que alteram esse índice estão a presença ou não de gordura, fibras insolúveis e proteínas, a forma de preparo e a combinação desses itens com outros à mesa. Por exemplo: a batata cozida apresenta carga glicêmica maior que a da batata frita, porque é isenta de gordura. A mesma batata cozida terá teor glicêmico menor se consumida com casca ou acompanhada de uma fonte de proteína, como um bife. O macarrão feito à base de trigo refinado tem carga glicêmica maior que a versão integral da massa bem cozida. Esta, por sua vez, terá carga glicêmica maior, se comparada com o macarrão integral servido al dente (pouco cozido).

O açúcar causa diabetes?

O consumo exagerado de açúcar é parte de uma série de fatores que provocam a doença. Ele é talvez um atalho, o caminho mais rápido para a obesidade, que abre a porta para a resistência insulínica e para o diabetes. Sem que possa ser usada adequadamente pelas células para produzir energia, a glicose mantém-se na corrente sanguínea, obrigando o pâncreas, órgão no qual se localizam as células responsáveis pela produção de insulina, a secretar quantidades cada vez maiores da substância. Caso esse processo seja experimentado pelo organismo por muitos anos, a instalação do diabetes é quase inevitável. Ainda assim, as pessoas com blindagem genética à doença podem viver muitos e muitos anos sem que seu organismo acuse o golpe do abuso de açúcar na dieta. Essa blindagem pode ser reproduzida, mesmo em pessoas com diabetes, com o auxílio de medicamentos. Assim, com a doença sob controle, alguns diabéticos podem ocasionalmente comer doces sem maiores danos ao organismo.

É indicado reduzir a ingestão de alimentos ricos em carboidratos?

Os carboidratos são a principal fonte de energia do organismo. A pirâmide nutricional preconiza que cerca da metade das calorias diárias deve ser consumida sob a forma de carboidratos – preferencialmente os alimentos de baixa carga glicêmica, como os integrais ricos em fibras. Para uma alimentação saudável, no entanto, deve-se levar em conta também a quantidade de calorias e de gordura contida nos alimentos. Não adianta encher o prato com alimentos de baixo teor glicêmico, se esse prato estiver cheio de fatias suculentas de picanha ou de uma quantidade de calorias maior do que o recomendável. Um estudo da Universidade de Sydney, na Austrália, publicado recentemente na revista científica Archives of Internal Medicine, concluiu que dietas de emagrecimento à base de alimentos com carga glicêmica baixa são mais eficientes. A pesquisa acompanhou 129 pessoas com sobrepeso ou obesidade, com idade de 18 a 40 anos, divididas em quatro grupos, com cardápios diferentes cuja composição variava de acordo com a quantidade de proteínas e carboidratos de alto ou baixo teor glicêmico. A perda de peso promovida por todos os regimes foi semelhante. A diferença é que os cardápios de carga glicêmica mais baixa proporcionaram até o dobro da queima de gordura nos primeiros três meses. Ou seja, proporcionaram um emagrecimento mais rápido e mais saudável.

Quais são os melhores substitutos do açúcar refinado, fora os adoçantes?

A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que a ingestão de açúcar refinado não ultrapasse 10% do consumo diário total de calorias. Isso equivale, numa dieta de 2.000 calorias diárias, a quatro colheres de sopa rasas, aproximadamente. Essa porção inclui tanto a colherinha que adoça o cafezinho de manhã quanto o açúcar usado na receita do bolo ou na do molho de tomate. Por isso, se o objetivo é reduzir calorias e obter um sabor mais próximo ao do açúcar, uma opção é o açúcar light, que mistura o alimento refinado e adoçante. O açúcar refinado também pode ser substituído pelo mascavo ou por mel. A vantagem é que, enquanto o açúcar refinado não contém vitaminas nem sais minerais, o mascavo e o mel possuem. A desvantagem é que, como eles apresentam um poder edulcorante menor, as pessoas são tentadas a usá-los em maior quantidade.

O açúcar vicia?

Por causa do aumento nos níveis de dopamina e serotonina, substâncias produzidas no cérebro e que estão associadas ao prazer e ao bem-estar, o açúcar pode, de fato, viciar. Mas a dependência criada pela sensação de bem-estar e prazer decorrente do consumo de açúcar é mais de ordem psicológica do que química.

Por que gostamos tanto de doces?

O atual plantel de seres humanos é resultado de milhares de anos de evolução durante os quais, em diversas fases, comer alimentos adocicados foi vital para a sobrevivência. A humanidade, portanto, está programada para comer doces. A língua e o nariz são forrados de células que têm a função de detectar o sabor e o aroma dos doces. As razões para essa preferência ancestral são duas. Os doces são ricos em glicose, a principal fornecedora de energia para as células. Além disso, o sabor adocicado servia de indicador para que nossos ancestrais pudessem distinguir os alimentos saudáveis dos venenosos e estragados. A diferença básica entre a situação atual e a dos primórdios da evolução humana é a abundância. Os humanos primitivos comiam doces misturados às fibras dos frutos e sempre enfrentavam escassez calórica. Hoje, come-se açúcar não apenas em excesso, mas em concentrações com alto grau de pureza e sem a presença das fibras.

Adoçante artificial causa câncer?

Ratos submetidos a doses elevadas do adoçante ciclamato apresentaram alta incidência de leucemia. Os especialistas, porém, dizem que, para produzir o mesmo efeito em seres humanos, o ciclamato teria de ser consumido em doses diárias descomunais por décadas a fio. Como toda substância química, os adoçantes devem ser ingeridos com cuidado. Alguns apresentam sódio em sua composição, o que pode aumentar a retenção de líquidos e os níveis da pressão arterial. Por isso, pacientes hipertensos devem preferir adoçantes sem a substância. Alguns adoçantes, como o aspartame e o sorbitol, não são totalmente isentos de calorias. A frutose e o sorbitol podem alterar a glicemia e, por isso, não são recomendáveis para os diabéticos. Como não há estudos que comprovem a segurança do uso de adoçantes e produtos dietéticos por mulheres grávidas, os especialistas recomendam que seu consumo seja moderado durante a gestação.

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