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sábado, 16 de abril de 2011

Quem terá vida longa?

O retorno das embalagens de vidro é uma tendência perceptível nas gôndolas. Mas o produto está longe de substituir, por completo, o plástico

Com a chegada dos saquinhos plásticos, das PETs, das caixinhas de papel e das latinhas de alumínio, as embalagens de vidro se tornaram menos funcionais e ganharam outros papéis: decorativas e até artigo de colecionador. É só lembrar das famosas garrafinhas de 237 ml da Coca-Cola. Elas sobrevivem há 95 anos. Tem muita gente que as mantém em exposição, como um objeto retrô. Mas, como embalagem, nas últimas décadas elas representaram apenas 13% das vendas da marca.

Na Europa, existe uma tendência crescente na retomada das embalagens de vidro e aqui no Brasil também já é possível ver algumas iniciativas neste sentido. A química Patricia Sottoriva, doutora em biotecnologia e professora de engenharia ambiental da PUCPR, conta que, por parte das empresas, está havendo investimento na retomada das embalagens de vidro, considerando-se, principalmente, a manutenção das propriedades originais da bebida e os impactos ambientais.

“A embalagem de vidro é inerte, higiênica, não interfere no sabor de alimentos e bebidas, garantindo assim a qualidade original do seu conteúdo”, afirma o diretor comercial da Verallia, Paulo Dias.

Diferente do plástico, o vidro não mantém nenhuma interação química com o conteúdo armazenado e, segundo Dias, a inalterabilidade possibilita que os produtos por ele embalados tenham o dobro do prazo de validade comparado a outras embalagens. O diretor destaca a relevância desse projeto para o consumidor – que busca cada vez mais qualidade – e para o meio ambiente, afirmando que a empresa vai incentivar o retorno de forma efetiva.

Logística de reaproveitamento

Patricia Sottoriva afirma que além do investimento na retomada do vidro, as empresas precisam pensar na logística da coleta desse material. O ideal é que o consumidor possa devolver a embalagem vazia para o comércio e, em seguida, que essa garrafa seja recolhida pela empresa responsável. Quando isso não é possível, recomenda-se que o consumidor descarte o vidro no lixo de coleta seletiva, tomando as devidas precauções para que não ocorra nenhum acidente.

Tanto os procedimentos de reutilização da garrafa intacta ou de reciclagem dos cacos de vidro somam alguns benefícios. Paulo Dias diz que a produção de vidro a partir da reciclagem dos cacos apresenta economia substancial de energia comparativamente ao processo com matérias-primas virgens. “Além disso, garante menor extração desses insumos e propicia a redução do volume de lixo nos aterros.”

Segundo Patricia, a produção de uma tonelada de vidro, a partir do próprio vidro, evita a extração de 1,3 toneladas de areia e consome metade da quantidade de água utilizada no processo a partir da matéria-prima.

O contra-ataque do plástico

Para os especialistas, considerando-se questões sociais e econômicas – como cotações em alta do petróleo – a produção de plástico derivado desse recurso tende a diminuir. Porém, o vidro não é apontado como a única solução e outras vertentes estão surgindo. Patricia acredita que a produção do bioplástico, que pode ter como matéria-prima a cana-de-açúcar, aumentará. O bioplástico é diferente do plástico oxibiodegradável, o qual é feito a partir do petróleo, e tem como principal vantagem o fato de degradar mais facilmente no meio ambiente.

Seguindo esses caminhos, recentemente as multinacionais Coca-Cola e a Pepsi lançaram as garrafas PET feitas parcialmente de restos de plantas. O próximo passo é criar uma garrafa 100% elaborada com resíduos vegetais. Como se vê, o plástico não sairá do dia a dia da população tão cedo.

Os dois lados

A química e doutora em biotecnologia Patricia Sottoriva, professora de engenharia ambiental da PUCPR, comenta sobre alguns fatos que envolvem a produção, a utilização e o reaproveitamento do plástico e do vidro.

Verdade: o plástico libera substâncias prejudiciais ao organismo humano.

Quando exposto a temperaturas elevadas, o produto sofre uma desestruturação em suas propriedades, liberando substâncias passíveis de desencadear câncer ou outros problemas crônicos. Essas consequências só serão percebidas a médio e longo prazo. Com o vidro, isso não acontece, por isso ele é mais seguro que o plástico para o armazenamento de produtos que serão ingeridos.

Mito: reciclar é sempre a opção mais vantajosa

A reciclagem é um processo muito importante pela questão da preservação dos recursos naturais. Mas, reciclar uma tonelada de plástico consome 100 mil litros de água a mais que a mesma quantidade sendo produzida desde o início (extraindo o petróleo – o que também não é a melhor escolha). No caso do vidro, se o recipiente não sofreu contaminação, ele pode ser esterilizado e reutilizado, já que o produto é inerte. Nesse procedimento com as embalagens de vidro retornáveis não há extração de matéria-prima e há economia de água e energia. Se o processo de reciclagem do plástico for comparado ao de reutilização do vidro, o segundo método é mais vantajoso.

Fonte: livro Os bilhões perdidos no lixo, de Sabetai Calderoni (Ed. Humanitas FFLCH/USP, 2003), e artigo de Erika Hisatugo publicada na revista Sociedade e Natureza (2007).

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