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quinta-feira, 31 de março de 2011

Dificuldade de acordar pode ter relação com gene do relógio biológico

Com ou sem horário de verão, acordar cedo é um sacrifício para muitas pessoas.
O despertador toca e as tarefas do dia chamam, mas a vontade é de jogar o relógio pela janela e aproveitar a cama um pouco mais. Para quem não consegue fugir da cena, uma novidade: pesquisa recente feita pela Faculdade Weinberg de Artes e Ciências, nos Estados Unidos, sugere que a culpa para tal comportamento pode estar na genética.

Em estudo publicado recentemente na revista científica Nature, a equipe de cientistas, coordenada pelo neurobiólogo Ravi Allada, descobriu que alterações no gene CG4857, cientificamente conhecido como 24 (soma dos algarismos que compõem seu nome), provocou mudanças significativas nos hábitos de sono de moscas-da-fruta (Drosophila melanogaster). E, segundo Allada, isso pode ter repercussões também nos humanos.

O experimento foi feito com 4 mil moscas que tinham o gene 24 superexposto, ou seja, com maior variedade que o normal. Após sete dias de observação, notou-se que as moscas apresentavam um ciclo diário maior, que durava 26 horas. Para verificar melhor a influência do 24, os cientistas retiraram o gene dos insetos e obtiveram um efeito inesperado: as moscas passaram a dormir e acordar em horários alternados e não obedeceram mais a um ciclo regular. Ou seja, houve um descontrole do relógio biológico.

“As moscas que perderam o gene 24 ficaram pouco ativas antes do nascer do Sol. O equivalente humano a isso seriam aquelas pessoas que têm problema para levantar da cama pela manhã”, afirmou Allada em entrevista à Nature. “Esse gene atua especificamente nos dizendo a que horas ir deitar, provocando cansaço, e avisa nosso sistema para estar preparado, ficando mais alerta quando o Sol está nascendo e é hora de acordar”, completou.

Proteína
Esse aviso ao organismo sobre as horas de descanso e de despertar ocorre por meio da liberação de uma proteína reguladora do relógio biológico, a chamada PER. Segundo a geneticista e professora da Universidade de Brasília (UnB) Juliana Mazeeu, o ser humano nasce programado para despertar com a luz solar, mas algumas pessoas de fato apresentam falha nesse comportamento.

“Há indivíduos que não são estimulados pela luz do Sol. Pessoas assim já nascem com um problema que dá origem a essa dificuldade”, afirma a especialista. Antes que toda a culpa seja jogada sobre os genes, no entanto, é preciso destacar que outros fatores podem atrapalhar o funcionamento do relógio biológico. Juliana lembra que a tecnologia é uma inimiga do bom sono. “Quando fomos programados dessa forma, vivíamos em um mundo sem computador. As pessoas dormiam cedo e acordavam bem cedo. Hoje é diferente. Ninguém dorme quando o sol se põe e acorda quando ele nasce. Daí a origem do problema”, relata.

Para o especialista em medicina do sono Carlos Alberto Viegas, o estudo norte-americano é válido, mas não pode ser visto como motivo para acomodação. Hábitos que antecedem a hora de dormir, segundo ele, podem complicar ainda mais o despertar no dia seguinte. “É importante desenvolver uma rotina de dormir todos os dias no mesmo horário”, diz.

Viegas acredita que a dificuldade de acordar cedo tem relação com a má qualidade do sono. “Em média, precisamos dormir sete horas por noite. Pessoas que costumam dormir em horários aleatórios, alimentam-se mal, dormem em locais muito claros e barulhentos ou ficam no computador até tarde, tendem a dificultar que o sono atinja níveis consideráveis de qualidade e, por isso, só vão acordar quando o corpo estiver com as energias repostas, ou seja, bem tarde”, explica.

Fonte: correiobrasiliense.com.br

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