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sexta-feira, 8 de abril de 2011

Otimismo não cura, mas ajuda, dizem especialistas

Ter pensamento positivo, seguir as recomendações médicas à risca e acreditar na recuperação, como fez o ex-vice-presidente José Alencar, é a chave para manter a qualidade de vida

Na última semana, a morte do ex-vice-presidente José Alencar pôs fim a treze anos de luta contra um sarcoma – tipo de câncer que afeta o abdome –, mas não diminuiu o exemplo de superação dele frente à doença. Otimista, Alencar passou por todo o tratamento tentando demonstrar bom humor e ressaltando a esperança na cura. Para muitos, ficou a lição de que pensamento positivo faz uma diferença e tanto na luta contra a doença. Mas será que faz mesmo?

“Com certeza”, responde a psicóloga clínica do Hospital Erasto Gaertner Iolanda de Assis Galvão. Segundo ela, o otimismo é imprescindível para lidar com doenças graves – em especial, o câncer –, mas não é suficiente para alcançar a cura. “Ele é bom quando o paciente, por acreditar na recuperação, luta para se livrar do problema, aceita melhor os procedimentos médicos e se preocupa em seguir à risca os tratamentos.”

A vantagem é que ser otimista atua de maneira eficiente no organismo, rendendo uma resposta fisiológica que ajuda na recuperação. Ter uma atitude positiva em relação à vida faz com que haja maior liberação de endorfina, hormônio que dá uma sensação de bem-estar, melhora o humor, fortalece o sistema imunológico e aumenta a resistência do organismo a doenças oportunistas que comprometem o tratamento, como pneumonia e infecções.

Os otimistas também saem na frente durante o tratamento porque não se isolam, prezam pela continuidade de uma rotina que envolva os amigos e familiares e costumam falar abertamente sobre o problema, o que torna a recuperação menos atribulada. “Muitos pacientes interrompem a luta pela própria vida por causa do problema, deixam de conviver com as pessoas que amam, se blindam para não falar sobre o assunto e passam o resto do tempo só remoendo a tristeza de ter câncer ou outra doença, o que dificulta todo o processo de recuperação ou de ter qualidade de vida”, explica o médico oncologista do Hospital Erasto Gaertner José Clemente Linhares.

Para a psicóloga do Instituto Nacional de Câncer (INCA) Bianca Oigman, outro hábito que colabora para a recuperação é manter a fé. “Em muitos casos, a espiritualidade é o que dá sentido à vida, porque move o paciente a manter a esperança e ter vontade de sobreviver. Mesmo pesquisas científicas mostram que ter fé não cura o paciente, mas, assim como o otimismo, o ajuda a ficar mais confiante e a combater a doença de forma mais incisiva.”

E os benefícios podem ser vistos até quando a doença está em estágio terminal ou mesmo quando não há mais chances de cura. “Há muitos pacientes com doenças crônicas degenerativas que não desistem e, mesmo próximos do fim, encaram a situação com muita coragem, prezando por aproveitar o seu tempo da melhor forma possível”, comenta Linhares.

Os especialistas, porém, recomendam que o pensamento positivo seja sempre acompanhado por disciplina para seguir as orientações médicas à risca. “Todo excesso é ruim. Há casos em que a pessoa se sente tão confiante que acha que vai melhorar sem precisar de tratamento, então negligencia os cuidados com a saúde, o que é muito perigoso”, adverte Iolanda.

Com bom humor e sem falsas esperanças

Mesmo o otimismo fazendo bem, os especialistas dizem que os pacientes não precisam se pressionar para estar bem-humorado sempre. “É comum que um dia ou outro a pessoa fique insegura e sinta-se triste e desmotivada. O problema é quando este sentimento é um estado permanente”, explica a diretora da Sociedade Brasileira de Psico-Oncologia (SBPO) e presidente do Instituto Oncoguia, Luciana Holtz de Camargo Barros.

É importante também que o paciente, seus familiares e amigos evitem falsas esperanças. “Se a doença é terminal, o paciente deve se sentir incentivado a lutar da maneira que é possível, se conformar com o que não pode mudar, minimizar os processos de dor e permanecer motivado a viver bem. Se ele não pode ter a cura, que tenha qualidade de vida”, diz a psicóloga do Instituto Nacional de Câncer (INCA) Bianca Oigman.

Fonte: http://www.gazetadopovo.com.br

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